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Entenda a crise que ameaça governo Draghi na Itália

Entenda a crise que ameaça governo Draghi na Itália

Premiê pode ser levado a renunciar ainda hoje

ROMA, 14 julho 2022, 10:07

Redação ANSA

ANSACheck

Mario Draghi governa a Itália desde fevereiro de 2021 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

O governo do premiê da Itália, Mario Draghi, está à beira de uma crise política que pode até levar o país a realizar eleições antecipadas ainda neste ano.

No poder desde fevereiro de 2021, o economista chefia uma coalizão de união nacional que vai da esquerda à extrema direita e tem como objetivo garantir um governo estável até o pleito legislativo previsto para o primeiro semestre de 2023.

No entanto, um dos partidos mais importantes da base aliada, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), promete boicotar uma votação no Senado nesta quinta-feira (14), postura que deve abrir uma crise potencialmente irreversível para Draghi.

A votação em questão diz respeito a um pacote bilionário de ajudas financeiras contra a inflação para famílias e empresas, porém o M5S é contra o texto devido a um artigo que permite a construção de uma usina de energia de resíduos em Roma, projeto ao qual o movimento sempre se opôs.

Já aprovado na Câmara, o decreto será submetido nesta quinta ao voto de confiança no Senado, um instrumento usado pelo governo para acelerar a tramitação parlamentar e que condiciona sua continuação no poder à aprovação do texto tal qual foi apresentado.

Na prática, ao não participar da votação, o M5S indica que não dá mais sua confiança ao primeiro-ministro, que ficaria pressionado a entregar sua renúncia ao presidente Sergio Mattarella.

Mesmo sem o movimento antissistema, Draghi teria os votos necessários para seguir no poder, porém ele mesmo já disse que, sem o M5S, seu governo de união nacional não teria mais razão de existir, posição que encontra eco na maioria dos outros partidos.

"O próprio Draghi disse: sem os 5 Estrelas, não haverá outro governo. Se os 5 Estrelas fizerem essa escolha, palavra aos italianos", afirmou na última quarta o senador e ex-ministro do Interior Matteo Salvini, líder do partido de ultradireita Liga.

Draghi é apoiado por praticamente todas as grandes legendas, com exceção do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que cobra eleições antecipadas.

"Guerra, pandemia, inflação, pobreza crescente, risco de desabastecimento energético, crise alimentar, e o governo 'dos melhores' está imóvel. Chega, por favor. Todos para casa, e eleições imediatamente", escreveu no Facebook a deputada Giorgia Meloni, líder do FdI, sigla que lidera a maioria das pesquisas de intenção de voto.

Cenários

Se Draghi cair, a Itália pode ter eleições antecipadas no último trimestre deste ano, pleito que redimensionaria muitos partidos, inclusive o M5S, chefiado pelo ex-primeiro-ministro Giuseppe Conte.

Vencedor das últimas eleições legislativas, em março de 2018, com pouco mais de 30% dos votos, o movimento antissistema participou de todos os três governos empossados desde então, mas sofreu várias deserções nos últimos quatro anos e hoje amarga o quarto lugar nas pesquisas, com cerca de 10% da preferência.

Já a Liga, soberana no campo conservador durante a atual legislatura, correria sério risco de perder essa hegemonia para o FdI, que lidera as pesquisas com cerca de 23% das intenções de voto.

Para Conte, assumir a responsabilidade de derrubar um governo de união nacional em um cenário de tamanha incerteza poderia ser mais um golpe na popularidade do M5S. Por outro lado, aliados do ex-premiê acreditam que essa é a única forma de fazer o partido recuperar parte do apoio e reafirmar sua identidade antissistema.

Na semana passada, Conte chegou a apresentar uma lista de demandas a Draghi e disse que daria tempo para o premiê avaliar os pedidos, mas poucos dias depois voltou a acenar com a hipótese de uma crise.

O premiê deu uma coletiva de imprensa na última terça-feira (12) e afirmou que muitas propostas do M5S estavam em linha com a agenda do governo, como a redução da carga tributária e a instituição de um salário mínimo, porém ressaltou também que não aceitaria "ultimatos". (ANSA)

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