Pela primeira vez em sua história republicana, a Itália terá eleições parlamentares no segundo semestre, em um pleito que pode premiar o único grande partido que fez oposição ao premiê Mario Draghi nos últimos 17 meses.
A pesquisa de intenção de voto mais recente mostra a legenda de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), liderada pela deputada Giorgia Meloni, com 23,8% da preferência, em situação de empate técnico com o Partido Democrático (PD), principal força de centro-esquerda no país, com 22,1%.
O levantamento foi realizado pelo instituto SWG com 1,2 mil eleitores entre 13 e 18 de julho, com margem de erro de 2,8 pontos percentuais para mais ou para menos.
Em terceiro lugar aparece a ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini, com 14%, seguida pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), com 11,2%, e pelo conservador Força Itália (FI), do ex-premiê Silvio Berlusconi, com 7,4%.
Esse cenário tem se repetido nas pesquisas ao longo dos últimos meses, com raras exceções em que o PD aparece numericamente à frente do FdI, porém sempre em empate técnico.
As eleições antecipadas de 25 de setembro devem provocar profundas mudanças no equilíbrio de forças no Parlamento, porém sem alterar o quadro de fragmentação partidária que marca a política italiana desde a década passada.
O mais afetado negativamente deve ser o M5S, que venceu o pleito de 2018 com cerca de 32% de votos, mas acabou penalizado por seus quatro anos de governo e hoje aparece apenas em quarto lugar nas pesquisas.
Ao longo da atual legislatura, o movimento governou tanto com a extrema direita quanto com a centro-esquerda e afastou, por um lado, os eleitores que viam no partido o surgimento de uma nova força progressista, e por outro, os que se encantaram por seu discurso antissistema e eurocético.
Para sacramentar sua era governista, o M5S ainda aceitou, em fevereiro de 2021, participar do gabinete de união nacional encabeçado por Mario Draghi, um símbolo do establishment europeu que o partido sempre jurou combater.
Essa inconstância provocou uma série de cisões no movimento, que perdeu dezenas de parlamentares e figuras históricas nos últimos anos, como o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, que abandonou a sigla em junho por discordar de sua posição contrária ao envio de armas à Ucrânia.
Extrema direita
Para a Liga, as pesquisas mostram um cenário praticamente inalterado em relação a 2018, mas deixam o partido muito abaixo do pico de quase 35% que chegou a registrar em 2019, quando Salvini tentou forçar a convocação de eleições antecipadas para capitalizar essa popularidade.
A principal beneficiária da queda da Liga nas pesquisas é Giorgia Meloni, deputada que levou o FdI, herdeiro do extinto partido neofascista Movimento Social Italiano (MSI), ao posto de legenda política mais popular na Itália.
Em 2018, o FdI teve pouco mais de 4% dos votos, mas se as sondagens atuais se confirmarem, Meloni assumiria a liderança do campo conservador, que ainda inclui o cada vez menor Força Itália, e ganharia força para reivindicar o cargo de premiê e se tornar a primeira mulher a governar o país.
"Tenho as minhas ideias sobre como essa nação deve ser governada, sobre o que precisa ser feito, sobre qual deve ser sua estratégia industrial e seu posicionamento geopolítico", disse Meloni durante um evento de seu partido em Roma.
De acordo com as pesquisas, a aliança formada por FdI, Liga e FI ficaria muito perto de obter maioria no Parlamento, o que evitaria o surgimento de governos de coalizão entre campos políticos adversários, como sempre ocorreu na atual legislatura.
Para o PD, que sob o comando do ex-premiê Enrico Letta parece se recuperar da derrota nas eleições de 2018, a esperança seria terminar em primeiro lugar e tentar formar um gabinete que englobe todo o campo moderado.
"Apostamos na força e na capacidade do PD de ser uma alternativa à direita soberanista", escreveu o deputado de centro-esquerda Matteo Orfini, já explicitando quem o partido vai combater nas eleições de setembro. (ANSA)
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