O papa Francisco cobrou neste domingo (6) solidariedade da União Europeia para acolher as centenas de migrantes forçados que aguardam para desembarcar na Itália.
A declaração foi dada durante seu voo de volta do Bahrein, enquanto o governo da premiê de extrema direita Giorgia Meloni trava um braço de ferro com quatro navios humanitários que operam no Mediterrâneo Central.
"As vidas devem ser salvas, o Mediterrâneo é um cemitério, talvez o maior cemitério, mas a Itália não pode fazer nada sem acordo com a Europa", disse o líder da Igreja Católica.
Segundo Jorge Bergoglio, todos os governos da União Europeia "devem se colocar de acordo sobre quantos migrantes podem receber".
"E a União Europeia deve assumir uma política de colaboração e ajuda, não pode deixar para Chipre, Grécia, Itália e Espanha a responsabilidade por todos os migrantes que chegam em suas praias", salientou.
Além disso, o Papa cobrou que a Europa incentive o desenvolvimento na África para que seus habitantes não tenham mais de fugir. "A exploração das pessoas na África é terrível", acrescentou.
Horas antes das declarações de Francisco, a Itália autorizou o desembarque de 144 dos 179 migrantes forçados a bordo do navio Humanity 1, da ONG alemã SOS Humanity, mas mandou a embarcação ir embora com os 35 - todos homens - restantes.
A tripulação, no entanto, recusou a ordem e disse que só vai zarpar quando todos os náufragos puderem descer. Além do Humanity 1, outros três navios humanitários estão na costa italiana: o Geo Barents, de Médicos Sem Fronteiras, com 572 migrantes; o Ocean Viking, da SOS Méditerranée, com 234; e o Rise Above, da Mission Lifeline, com 90.
Cerca de 100 pessoas, sobretudo menores de idade, já puderam desembarcar do Geo Barents, porém o governo italiano ainda não deu autorização para o restante.
Impasse
Normas internacionais de navegação determinam que pessoas resgatadas em alto mar sejam obrigatoriamente levadas ao porto seguro mais próximo, mas a Itália quer que os países de origem dos navios humanitários - Alemanha e Noruega - se responsabilizem pelos migrantes.
A linha dura contra as ONGs é capitaneada pelo ministro da Infraestrutura Matteo Salvini, que é responsável pela gestão dos portos italianos e ainda conseguiu emplacar um aliado fiel, Matteo Piantedosi, como ministro do Interior, pasta encarregada das políticas migratórias.
França e Alemanha já se ofereceram para acolher parte dos migrantes, mas outros países da UE, como Polônia e Hungria, aliados de Meloni e Salvini, boicotam sistematicamente as tentativas do bloco de redistribuir os deslocados internacionais, de modo a reduzir o peso do primeiro acolhimento sobre a Itália.
De acordo com o Ministério do Interior, 87,4 mil migrantes forçados já desembarcaram nos portos italianos em 2022, crescimento de 61% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os principais países de origem são Egito (17,7 mil), Tunísia (16,9 mil), Bangladesh (12,3 mil), Síria (6,4 mil) e Afeganistão (6,1 mil).
No entanto, a maior parte desses deslocados segue viagem rumo ao norte da UE, para nações como a Alemanha, que registra 114 mil pedidos de refúgio em 2022, contra 37 mil da Itália.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), quase 1,3 mil pessoas já morreram ou desapareceram tentando concluir a travessia do Mediterrâneo Central em 2022, média de mais de quatro fatalidades por dia. (ANSA)
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