(ANSA) - Na enésima tragédia no Mar Mediterrâneo, 59 pessoas morreram após um naufrágio ocorrer na altura da costa da cidade italiana de Cutro, na região da Calábria, neste domingo (26).
Cerca de 80 migrantes conseguiram sobreviver nadando até a praia e relataram que a embarcação tinha entre 180 e 250 pessoas a bordo. Eles afirmaram ainda que a embarcação se partiu no meio por conta da forte agitação no mar.
Os corpos resgatados foram encontrados boiando na água ou nas areias da praia de Cutro e, entre as vítimas, há mulheres e crianças - incluindo um casal de gêmeos e um bebê.
A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, afirmou que sente uma "profunda dor por tantas vidas humanas abreviadas por traficantes de pessoas".
Com um governo que voltou a pressionar as ONGs humanitárias que atuam no resgate de pessoas em embarcações clandestinas e que está pressionando a União Europeia a agir mais efetivamente sobre o tema, Meloni ainda disse que "não é hora de especular sobre essas mortes". "O governo está comprometido a impedir as partidas e com isso a chance de tragédias como essa, e continuará a fazer isso, também exigindo o máximo de colaboração dos Estados de partida e proveniência", acrescentou.
O presidente da Itália, Sergio Mattarella, expressou sua "dor" e cobrou novamente a União Europeia para resolver a crise.
"É preciso um forte compromisso da comunidade internacional para remover as causas de base dos fluxos migratórios: guerras, perseguições, pobreza, territórios tornados inabitáveis pelas mudanças climáticas. É indispensável que a UE assuma finalmente de maneira concreta a responsabilidade de governar o fenômeno migratório para eliminá-lo das mãos dos traficantes de seres humanos, empenhando-se nas políticas migratórias", disse o mandatário em nota.
Segundo Mattarella, "muitos desses migrantes vinham do Afeganistão e do Irã, fugindo de condições de grande dificuldade". "É a enésima tragédia no Mediterrâneo que não pode deixar ninguém indiferente", pontuou.
Já a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma das afetadas pelas medidas do governo italiano, criticou a falta de ação para socorrer as pessoas no mar.
"No Mediterrâneo, continua-se morrer de maneira incessante em um desolador vácuo na capacidade de socorro. A poucas dezenas de quilômetros das costas italianas, quando a meta está perante os olhos, naufragou o futuro de dezenas de pessoas que buscavam uma vida mais segura na Europa. É humanamente inaceitável e incompreensível porque estamos aqui assistindo tragédias evitáveis. É um soco no estômago", disse um dos representantes da MSF, Sergio Di Dato.
Conforme o porta-voz da Unicef Itália, Andrea Iacomini, "são mais de 25,8 mil mortos e desaparecidos desde 2014 ao longo da rota do Mediterrâneo Central, sendo 120 só em 2023 - incluindo muitas crianças". "Mas esse número é subestimado porque considera só os casos denunciados ou os corpos encontrados", pontua ainda.
Quem também se manifestou foi a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que afirmou estar "profundamente entristecida pelo terrível naufrágio".
"A consequente perda de vidas humanas de migrantes inocentes é uma tragédia. Todos juntos, precisamos dobrar os esforços para o Pacto sobre as Migrações e Asilo e para o Plano de Ação sobre o Mediterrâneo Central", escreveu a líder europeia.
Prisão de traficante
Um homem foi preso em Cutro por suspeita de ser um ou um dos traficantes de seres humanos que estavam em um barco que naufragou na costa italiana. Trata-se de um cidadão turco, que foi ouvido pelas autoridades, e detido após depoimentos de sobreviventes.
Entre os restos da embarcação, documentos de outro homem suspeito do mesmo crime foram encontrados. No entanto, não se sabe se a pessoa fugiu ou se está entre os desaparecidos do naufrágio.
Papa Francisco
O papa Francisco fez uma oração no Angelus pelas vítimas do naufrágio ocorrido na costa da cidade italiana de Cutro.
"Nesta manhã, eu soube com muita dor do naufrágio ocorrido na costa calabresa, perto de Crotone. Foram recuperados 40 corpos, entre os quais, muitas crianças. Rezo por cada um deles, pelos desaparecidos, pelos migrantes que sobreviveram. Agradeço todos que ajudaram no socorro e aqueles que estão dando acolhimento. Que Maria apoie esses nossos irmãos e irmãs", disse o líder católico.
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