A Igreja Ortodoxa da Rússia informou nesta quinta-feira (30) que "deseja" que o encontro entre seu líder, o patriarca Cirilo, e o papa Francisco ocorra ainda "neste ano".
A informação foi repercutida pela embaixada russa da Santa Sé ao citar uma matéria da agência estatal Ria Novosti com declarações do metropolita Hilarion. "Estamos trabalhando para esse encontro", ressaltou o representante ortodoxo, pontuando que, por conta da guerra na Ucrânia, as preparações passaram a ter reuniões virtuais.
Na entrevista, Hilarion dá a entender que o Patriarcado de Moscou quer manter aberta a via do diálogo, mesmo que este tenha estremecido por conta da invasão russa no país vizinho.
O representante, que é o porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa, afirmou que a conversa online ocorrida entre Francisco e Cirilo no último dia 16 de março "foi muito importante" e que ambos concordaram "que é necessário fazer todos os esforços para que as divergências se resolvam pacificamente".
O Patriarcado de Moscou, que rompeu com o de Constantinopla por conta de reconhecimentos aos ortodoxos ucranianos em 2014, é muito próximo do governo russo - com uma ampla ligação entre Cirilo e o presidente Vladimir Putin. Por conta disso, os líderes da religião não condenaram abertamente a guerra e sequer a chamam pelo termo bélico, referindo-se ao conflito como "operação militar especial", como determina a ordem de Putin.
Na nota oficial pós-encontro, novamente, o Patriarcado não citou a palavra "guerra" ou "invasão" e se limitou a falar sobre os refugiados e questões humanitárias bem como que todos "têm o direito de falar em sua língua-mãe" - uma das acusações do Kremlin contra Kiev.
Já o comunicado do Vaticano citou a palavra "guerra" por diversas vezes - em alguns parágrafos, houve a repetição do termo por quatro vezes quase consecutivas - e afirmou que esses conflitos "são sempre injustos" e que as igrejas "não devem usar a língua da política, mas a linguagem de Jesus".
Além disso, Cirilo vinha sofrendo pressão dos próprios padres ortodoxos russos - mais de 200 assinaram uma carta condenando o início da invasão russa - e de outras vertentes ortodoxas.
Antes do início da guerra, em 24 de fevereiro, o Vaticano e Moscou estavam trabalhando intensamente para um segundo encontro entre os dois líderes e a previsão de data era a metade do ano de 2022.
A primeira reunião entre ambos ocorreu em 2016, em Cuba, e foi uma iniciativa inédita em mais de mil anos após a cisão entre ortodoxos e católicos.
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