O papa Francisco voltou a alertar sobre os riscos do populismo e do imperialismo no mundo atual durante seu primeiro compromisso na viagem ao Bahrein, na cidade de Awali, nesta quinta-feira (3).
"Se pode e se deve conviver no nosso mundo, tornado há décadas em uma aldeia global na qual, dada como certa a globalização, é ainda é desconhecido o 'espírito de vila': a hospitalidade, a busca pelo outro, a fraternidade. Pelo contrário, assistimos com preocupação o crescimento em larga escala da indiferença e da suspeição recíprocas, o dilatar-se a rivalidade e contraposições que se achavam superadas, os populismos, os extremismos e os imperialismos que colocam como refém a segurança de todos", disse em encontro com autoridades locais.
O pontífice ainda falou sobre as guerras do mundo e classificou os conflitos como uma "realidade monstruosa e insensata", voltando a fazer um apelo para que se "silenciem as armas".
"Hoje assistimos, e cada dia mais, a ações e ameaças de morte. Penso, em particular, na realidade monstruosa e insensata da guerra, que sempre semeia destruição e erradica a esperança. Na guerra, emerge o pior lado do homem: egoísmo, violência e mentiras. Sim porque na guerra, e em todas elas, a guerra representa também a morte da verdade", afirmou.
O Papa fez um novo apelo para que a "lógica das armas seja refutada e a rota seja invertida, enviando as grandes despesas militares para investimentos para combater a fome, a falta de cuidados de saúde e a educação".
"Quero ainda fazer um pensamento especial e apurado ao Iêmen, martirizado por uma guerra esquecida que, como cada guerra, não leva a nenhuma vitória, mas só a amargas derrotas para todos. Levo nas orações sobretudo os civis, as crianças, os idosos, os doentes e imploro: silenciem as armas", acrescentou.
Francisco ainda destacou que estava no Bahrein "como um crente, um cristão, um homem e peregrino da paz porque hoje, mais do que nunca, somos chamados a nos comprometer pela paz em todos os locais".
Bahrein
O líder católico ainda deu amplo espaço para a defesa dos direitos humanos, que devem ser "respeitados", e afirmou que a pena de morte deve ser abolida em todos os lugares. O Bahrein ainda aplica a pena capital e é acusado por diversas ONGs de perseguir opositores.
"Penso sobretudo no direito à vida, a necessidade de sempre garanti-lo , mesmo naqueles que são punidos - dos quais a existência não pode ser eliminada. A liberdade religiosa deve ser plena, não deve ser limitada a liberdade de culto para que a dignidades e as oportunidades sejam concretamente reconhecidas em cada grupo e em cada pessoa. Também para que não hajam discriminações e os direitos humanos fundamentais não sejam violados, mas promovidos", pontuou aos jornalistas.
A manifestação do líder católico vem após ONGs enviarem uma carta pedindo para que o papa Francisco aborde com as autoridades do Bahrein a questão dos "prisioneiros de consciência", civis presos desde os protestos da Primavera Árabe em 2011 por se oporem ao governo, e também às discriminações sofridas pelos muçulmanos xiitas.
A atual realeza é muçulmana sunita e, segundo as organizações, os civis que não professam essa fé são discriminados na vida social e política do país. Ainda sobre o Bahrein, um país que atrai muitos trabalhadores da região por conta de oportunidades de emprego, o chefe da Igreja Católica ressaltou que não pode haver uma "desumanização".
"Não se pode esquecer que nos nossos tempos há ainda muita falta de trabalho, e muito trabalho desumanizador. Isso não comporta só os graves riscos de instabilidade social, mas representa um atentado à dignidade humana. O trabalho, de fato, não é só necessário para ganhar dinheiro para viver, mas é um direito indispensável para desenvolver integralmente a si mesmos e para moldar uma sociedade à imagem do homem", ressaltou.
Francisco disse que "desse país, que é atraente pelas oportunidades de trabalho que oferece, quero alertar para a emergência da crise de trabalho mundial: muitas vezes, o trabalho, precioso como o pão, falta; ou sovado, é pão envenenado, que escraviza". "Nos dois casos, no centro não está mais o homem, que de um fim sacro e inviolável do trabalho é reduzido a um meio para produzir dinheiro. Que sejam oferecidos em todos os locais condições de trabalho seguras e dignas, que não impedem, mas favorecem a vida cultural e espiritual; que promovem a coesão social, a vantagem da vida em comum e do desenvolvimento dos países", pontuou.
COP27
O líder católico também falou sobre a reunião das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, que ocorre a partir do próximo dia 6 em Sharm el-Sheik, no Egito, e alertou para a necessidade urgente de ações.
"Quantas árvores são derrubadas, quantos ecossistemas são devastados, quantos mares são poluídos por conta da insaciável avidez do homem - e que depois se vira contra ele. Não cansemos de trabalhar por essa urgência dramática, colocando na mesa escolhas concretas e de longo prazo, tomadas pensando nas jovens gerações, antes que seja muito tarde e comprometa o futuro delas", disse aos presentes.
Para Francisco, é preciso que a COP27 "seja um passo adiante em tal sentido".
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