A um dia da votação que vai definir se o atual governo da Itália permanece, o premiê Mario Draghi se reuniu com o presidente do país, Sergio Mattarella, nesta terça-feira (19) no Palácio do Quirinale.
Conforme fontes da Presidência italiana, a reunião faz parte das "habituais interlocuções" entre os chefes de Estado e governo, principalmente, "em fases delicadas, como esta, e no dia seguinte da viagem à Argélia" - para onde Draghi foi na segunda-feira (18).
Draghi também se reuniu com o secretário-geral do Partido Democrático (PD), maior sigla de centro-esquerda, Enrico Letta, para discutir o voto de confiança para sua permanência. Fontes do partido afirmam que o pedido para o premiê foi o mesmo "continuidade".
Cada vez mais legendas, associações e organizações fazem pressão para que o atual premiê permaneça no cargo, mas a situação para esta quarta-feira (20) ainda é incerta. Mais de 1,6 mil prefeitos assinaram um documento pedindo que o governo permaneça e praticamente todos os principais partidos também têm a mesma postura.
Uma pesquisa realizada pelo Euromedia Research para o jornal "La Stampa" mostra que também a maioria dos italianos não quer mudar o governo agora, em um momento de crise econômica, energética e em meio à guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Apenas um em cada três deseja novas eleições no momento, sendo que desses 65,5% são eleitores do partido de extrema-direita Irmãos da Itália (FdI) - única grande força política fora da base do governo Draghi - e 40% do ultranacionalista Liga.
O levantamento mostra ainda que 52,9% dos italianos quer manter Draghi, sendo que 36,3% querem que o governo siga adiante sem os populistas do Movimento 5 Estrelas (M5S), que abriram a crise após boicotarem uma votação no Senado; 8,9% querem que siga com a mesma maioria; e 7,7% dizem que concordam apenas com o apoio externo do M5S, sem fazer parte do governo.
Fitch e UE
Quem também se manifestou pela permanência de Draghi nesta terça-feira foi a agência de classificação de risco Fitch, que destacou o cenário de incertezas para que a Itália pode seguir em caso de eleições.
"A renúncia de Mario Draghi do cargo de presidente do Conselho de Ministros depois de uma quebra em seu governo de unidade nacional anuncia uma maior incerteza política mesmo que fossem evitadas as eleições antecipadas. As implicações de curto prazo para a política econômica e de orçamento dependem de êxitos políticos, mas é provável que as reformas estruturais e a consolidação fiscal se tornam mais desafiadores", informou em relatório.
Já o comissário da União Europeia para Mercado Interno, Thierry Breton, afirmou que a crise no governo italiano "não é uma boa notícia" e que todo o bloco "tem grande respeito pelo trabalho excepcional" feito por Draghi.
"Para gerir as crises que atravessamos e, em particular, a energética, é preciso continuidade de governos e esperamos que esse também possa durar. A continuidade é tudo que temos necessidade porque os momentos que temos pela frente são complicados e precisamos mostra muita unidade e solidariedade", acrescentou Breton.
Crise política
Na última quinta-feira (14), o premiê renunciou ao cargo após um dos principais partidos da base aliada, o M5S, que enfrenta uma drástica queda de popularidade, ter boicotado um voto de confiança no Senado. A votação era sobre um decreto-lei com ajudas para famílias e empresas italianas em meio às crises existentes no país.
Porém, pouco após anunciar que apresentaria sua renúncia ao Conselho de Ministros, Draghi teve o pedido rejeitado por Mattarella, que determinou que ele fizesse consultas ao Parlamento para verificar se ainda há maioria de apoio ao governo.
Essa sessão foi marcada para essa quarta-feira (20) e Draghi deve primeiro ir para o Senado, onde a crise foi iniciada, e depois para a Câmara dos Deputados. Até o momento, a maioria da ampla coalizão se mostrou favorável à permanência do premiê, no entanto, parte dela exige que o M5S fique de fora da nova composição.
Caso a votação desta quarta não dê a permanência, Mattarella teria duas opções: antecipar as eleições, que ocorreriam no fim de setembro ou início de outubro, ou nomear um governo técnico para o fim da atual legislatura, que termina no primeiro trimestre de 2023.
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